A instituição filantrópica de longa permanência mais antiga do Brasil, a Associação Beneficente Pella Bethânia, de Taquari, completa, no dia 19 de novembro, 130 anos de cuidado e atenção especializada às pessoas que acolhe. Atualmente, acolhe mais de 140 pessoas idosas ou com deficiência acima de 18 anos em seis casas-lares, recebendo atenção e cuidado profissional de 130 trabalhadores, nas mais diversas áreas da saúde, assistência social e educação.
Uma história que começa com visionário pastor itinerante Michael Haetinger, que em suas andanças pelo Rio Grande do Sul começa a observar muitas crianças de imigrantes alemães recém-imigrados ao Brasil órfãs, além de viúvas e pessoas com deficiência desamparadas. Assim, ele une forças com mais dois colegas pastores e adquire uma área de terras da antiga Fazenda Barros, às margens do Rio Taquari, no município que leva o mesmo nome do manancial.
Em 19 de novembro de 1892, Haetinger e sua família chegam às terras recém-adquiridas e dão início à história da Pella Bethânia. Dia após dia, desafios são superados e vidas são transformadas para melhor. Essência que permanece até hoje norteia o trabalho dos 130 trabalhadores da instituição. Uma instituição centenária que foi se adequando ao seu tempo, mas sem abrir mão de suas raízes.
E, hoje, Pella Bethânia é a instituição de longa permanência mais antiga do Brasil em atividade. Descoberta esta que foi feita pelo professor, historiador e pastor Martin Norberto Dreher, uma das referências na área da imigração alemã no Brasil, durante a sua pesquisa para escrever o seu 50º livro, intitulado “Pella Bethânia 130 anos: uma história de amor ao próximo”.
Até então, sabia-se que a instituição era uma das mais antigas do Estado. Mas a certeza vem com o livro comemorativo. “Ela não só uma das mais antigas instituições, mas como de fato é a instituição de longa permanência mais antiga do Brasil. E não somente isso. A instituição é pioneira em inúmeras iniciativas ao longo de sua história de 130 anos”, afirma o autor.
Foi na Pella Bethânia que foi instalada a primeira máquina para produzir sagu do Brasil. A mais antiga caixa de aposentadoria e pensões do Brasil também foi criada na instituição, bem como a primeira escola de formação de professores luteranos do país (hoje instalada em Ivoti), conforme observa Dreher.
O autor ainda coloca que a Pella Bethânia, por meio de seu fundador, Michael Haetinger, passou a ser um ensaio para a formação da Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB), à qual a instituição está vinculada confessionalmente, tendo em vista que o pastor itinerante aglutinou as igrejas luteranas do Brasil com o propósito de auxiliar a entidade. “Michael Haetinger foi a São Paulo, Espírito Santo e outros estados para coletar dádivas para o seu trabalho em Taquari”, pontua.
No aspecto histórico, Dreher ressalta que a Pella Bethânia é consequência de profundas transformações que estavam acontecendo na Europa, não restando a muitas famílias outra alternativa a não ser migrar para o Brasil. “Haetinger, em suas andanças pelo Rio Grande do Sul, vai se deparar com situações deploráveis que muitos imigrantes estavam passando, especialmente crianças, viúvas, pessoas idosas e com deficiência. E assim nasce a Pella Bethânia, um lugar de refúgio e acolhida para quem passava necessidades”, explica.
Na visão do autor Pella Bethânia só existe por ser uma instituição de amor ao próximo. “Fico feliz que, mesmo após todos os percalços que houveram ao longo de seus 130 anos, Pella Bethânia segue sua obra. Pella Bethânia tinha que ser tombada como memorial de trabalho em prol das pessoas mais necessitadas no Brasil”, ressaltou.
O coordenador geral da instituição, Dério Milke, afirma que hoje, 130 anos após, o legado de Haetinger continua vivo. “Hoje é bom saber que a gente faz parte desta história. De alguma forma, cada um de nós faz parte desta história. Por isso, é uma das nossas missões fazer com que mais pessoas se apaixonem por Pella Bethânia e sua obra. Temos hoje aqui, uma história de valor. Não são todas as instituições que completam 130 anos de história. São 130 anos buscando cuidar das pessoas, com profissionais capacitados, mas mantendo a essência de amor e cuidado”, sublinha.
As mais de 140 pessoas acolhidas por Pella Bethânia são oriundas de 72 municípios gaúchos e de Santa Catarina, sendo que 27 prefeituras mantêm convênios com a instituição visando o acolhimento de seus munícipes. Em torno de 50 residentes são totalmente da instituição, ou seja, não possuem familiares próximos.
Semanalmente, a instituição oferece inúmeras oficinas culturais e de aprendizagem, estimulando a autonomia e oportunizando mais qualidade de vida e vida digna às pessoas acolhidas. Além disso, conta com profissionais de saúde diariamente, além de outras áreas, que juntos, compõem uma equipe multidisciplinar que está atenta às necessidades de cada residente.
CRÉDITOS DO TEXTO: Édson Luís Schaeffer
