A Associação Beneficente Pella Bethânia, de Taquari/RS, tem em sua essência, ao longo de seus 132 anos, o amor e cuidado ao próximo. Uma atenção especial que não se restringe somente a seus 148 residentes atualmente, mas também com aqueles que cuidam. E é com este propósito que a instituição cedeu a pousada e o auditório para o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de São Paulo, que está auxiliando na busca por pessoas desparecidas no Vale do Taquari em decorrência da cheia histórica do mês de maio.
Desde 30 de abril locada em Lajeado, a corporação transferiu sua base operacional do Vale do Taquari para a Pella Bethânia no domingo, dia 16 de junho, e permanecerá o tempo necessário para seguir auxiliando nos trabalhos de buscas na região. Junto à pousada da Pella Bethânia, os bombeiros têm as acomodações necessárias para a execução do trabalho, como auditório para a parte operacional e de estratégia, cozinha para preparo e realização das refeições, banheiros equipados com chuveiros e, é claro, quartos que possibilitam o descanso após um dia exaustivo de buscas das joias, como estão carinhosamente chamando as vítimas fatais.
A força-tarefa disponibilizada pelo estado de São Paulo é dividida em equipes, que se revezam a cada 10 dias. Atualmente, a Força-Tarefa (FT) 05 é composta por 23 homens que atuam em sete viaturas, quatro embarcações, drones, binômio (guia e o cão farejador) e o helicóptero Águia 12, da Polícia Militar de São Paulo. O cão farejador desta FT é a Hope (Esperança em português), que está há sete anos na corporação e atuou, entre outros locais, em Brumadinho (MG), Teresópolis (RJ) e na busca de desaparecidos no terremoto da Turquia.
A equipe da FT 05 permanece em Taquari até esta sexta-feira, dia 20, quando a FT 06 assume os trabalhos. A nova equipe é composta por 20 homens e três mulheres, além de dois cães farejadores. A corporação paulista ainda tem o apoio de oito bombeiros do Espírito Santo, que igualmente estão na pousada Pella Bethânia.
A transferência da base operacional para Taquari foi motivada pela oferta da estrutura completa da instituição e por as buscas da corporação estarem concentradas, no momento, no município, inclusive com uma vítima localizada no sábado, dia 15 de junho, em uma região conhecida como Cemitério de Navios. Nesta semana, devido à nova elevação do Rio Taquari, a força-tarefa atuou em outros municípios da região, como em Teutônia, onde localizaram mais uma pessoa desaparecida no final da tarde de quarta-feira, dia 19.
Em paralelo, a Pella Bethânia tem se beneficiado com a presença dos bombeiros militares. Na segunda e terça-feira, dias 17 e 18, eles ministraram o treinamento “Combate a princípios de incêndio e atendimento pré-hospitalar” para as equipes de trabalho da instituição. A capacitação foi organizada pela coordenadora dos lares, Mônica de Castro, e pelo 1º tenente Marcus Vinicius de Oliveira Barbosa. No dia 17, contribuíram com a capacitação o subtenente Luciano Burin, o 1º sargento Roberto Fernandes Ribeiro e o soldado Mateus Ferreira Gonçalves. Já dia 18, foi a vez do subtenente Juarez Gonçalves da Veiga Júnior e o soldado João Henrique de Souza Cardoso ministrarem o treinamento.
Durante a semana ainda, tanto residentes quanto funcionários foram presenteados com a presença do helicóptero Águia 12 do Comando de Aviação da Polícia Militar (CAvPM) de São Paulo, com pousos e decolagens ocorrendo atrás do ginásio da instituição. Entre cada pouso e decolagem, funcionários e residentes se deslocavam até a aeronave para fazer fotos e, até mesmo, conhecer detalhes da mesma.
Para o coordenador geral da Pella Bethânia, Dério Milke, ceder o espaço da pousada para o Corpo de Bombeiros da Polícia Militar de São Paulo é a forma da instituição contribuir com a região neste momento delicado. “Além do cuidado com os nossos residentes, cuidamos de quem cuida. E para nós é uma honra poder cuidar destes homens e destas mulheres que bravamente tem auxiliado o nosso Estado, oferecendo a eles e elas um espaço digno e um acolhimento familiar”, frisa.
O comandante da Força-Tarefa 05, major Orival Santana Junior, comenta que tem sido gratificante utilizar as instalações da Pella Bethânia. “Só temos a agradecer à coordenação e toda a equipe de funcionários da Pella Bethânia, que tão bem nos acolheu. Estamos todos muito motivados e felizes. Não imaginávamos que seríamos tão bem recebidos aqui. Aqui estamos tendo o suporte necessário para que possamos atender com excelência a população do Rio Grande do Sul”, enaltece.
Conforme o comandante, a estrutura da Pella Bethânia contribuiu positivamente no rendimento dos bombeiros. “As acomodações são excelentes. Temos local adequado para fazermos nossas refeições, com geladeira, forno elétrico, fogão. O próprio descanso em camas permite que bombeiros, de fato, possam descansar, o que aumenta o rendimento no novo dia de trabalho”, coloca.
O major também coloca que, apesar das dificuldades, a população do Rio Grande do Sul tem mostrado uma força imensurável. “Mesmo com tanta tragédia, as pessoas tem tido uma força inimaginável para poder superar tudo isso. São muitas histórias tristes, mas ao mesmo tempo de superação e de gratidão. Então, é muito gratificantes poder estar auxiliando essas pessoas. É o nosso dever sendo cumprido com excelência e de forma engrandecedora”, ressalta.
A Prefeitura de Taquari, bem como o Corpo de Bombeiros local, também têm dado o suporte necessário à corporação paulista. O almoço para o efetivo é fornecido voluntariamente pela Cantina Oliveira, também de Taquari. Durante o mês de maio, a Pella Bethânia também acolheu voluntários de Santa Rosa, cidade gaúcha que adotou Taquari e auxiliou na recuperação da cidade.
A base operacional
Junto ao auditório da Pella Bethânia, a corporação montou sua base operacional. Por meio de computadores e aplicativos específicos, acompanham as condições climáticas, as áreas de interesse por buscas, bem como o trajeto percorrido por cada bombeiro e, inclusive, cão farejador. Quando necessário, a base operacional se comunica com a equipe de campo por meio de aplicativo que permite a conexão com os rádios.
Seja por água ou por terra, os bombeiros vão realizando as buscas nas áreas de interesse identificadas previamente por meio do sobrevoo de helicóptero ou drone. Qualquer animal morto e, é claro, pessoa localizada é mapeada. Quando alguma vítima é localizada, as autoridades competentes são acionadas.
Conforme o subcomandante da Força-Tarefa 5, capitão Clóvis Augusto Michelin, as áreas de interesse onde se concentram as buscas são locais onde há acúmulo de materiais, principalmente troncos de árvores, restos de mobílias, de casas e animais. “O rio vem descendo e nas áreas onde há uma mata mais fechada e alta, ocorre um filtro. Com a ajuda de cão farejador, que é treinado para identificar somente corpos humanos, fazemos a busca nestes locais. Muitas vezes ainda contamos com o suporte de máquinas para remover o entulho de uma área já monitorada e realizar nova busca”, explica.
CRÉDITOS DO TEXTO: Édson Luís Schaeffer